Amor próprio não pode florescer em isolamento
Provocações sobre o amor próprio com apoio da Bell Hooks
Oi, tudo bem?
Aqui é a Marcelle Xavier, iniciadora do Instituto Amuta, uma plataforma para transformar as relações através do design. Tudo que fazemos no Amuta é fruto de muito estudo, e criei esse espaço para compartilhar as pesquisas e o processo por trás dos conteúdos e práticas criadas no instituto.
Nos espaços onde eu abro as conversas sobre amor, sempre tem algum momento alguém levanta a bandeira do amor próprio. É bem comum falas que colocam o amor próprio como anterior ao amor pelo outro, como condição para o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, ou até mesmo como um caminho para dependermos menos das pessoas e da validação externa.
Essa fala é tão naturalizada, que parece óbvia né? Mas ela sempre me causou um incômodo, e pouco a pouco eu fui entendendo o porquê e queria compartilhar alguns pensamentos que tive com apoio do livro “Tudo sobre o amor” da Bell Hooks.
Desenvolvemos amor próprio através das relações e do contexto social que nos envolvemos desde a infância. O amor próprio é desenvolvido socialmente.
Quantas vezes por dia você odeia alguma parte do seu corpo? Ou não se acha boa o suficiente para um trabalho? Ou sente a famosa síndrome de imposta? Me arrisco a dizer que pelo menos uma vez por dia você vai odiar alguma parte de si, especialmente se você for mulher. Coletivamente somos socializadas para não nos amarmos como somos.
E aquelas pessoas que menos amam a si mesmas, provavelmente cresceram em ambientes onde faltava amor. O amor floresce em ambientes de atenção, afeto, apreciação, cuidado. E por mais que possamos criar uma relação mais amorosa com nós mesmas, o amor próprio vai depender (e muito) de um ambiente amoroso.
“Não é uma tarefa fácil se amar. Frases prontas que fazem o amor próprio soar fácil, só piora as coisas. Deixa muitas pessoas se perguntando por que, se é tão fácil, continuamos presas em sentimentos de baixa auto estima e auto ódio.” Bell Hooks
Parte do discurso de amor próprio nasce de uma crença muito enraizada de auto suficiência e do super empoderamento do indivíduo. É tentador acreditar que depende só de nós, e assim a saída fácil é ignorar a profunda necessidade de transformação do contexto social e político a qual estamos inseridas.
Se queremos escolher o amor próprio temos sim escolha - mas pra mim a principal escolha começa por transformar o contexto a qual estamos inseridas e nutrir relacionamentos verdadeiramente amorosos.
O amor próprio é importante, mas frases vazias não serão capazes de invocá-lo, afinal, como diria Bell Hooks, ele não pode florescer em isolamento.
Até logo, beijos
Marcelle Xavier
Acabei de terminar a leitura desse livro e estou muito mexida com as colocações da bell hooks. O amor próprio foi tb muito capitalizado das vezes parece ter virado outra pressão sobre a mulher. Que nos amemos mais sozinhos e coletivamente.